quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A arte como arma de guerra - análise da obra Guernica







“O que vocês pensam que seja um artista? Um imbecil feito só de olhos, se é pintor, ou de ouvidos, se é músico, ou de coração em forma de lira, se é poeta, ou mesmo feito de músculos, se se trata de um pugilista? Muito ao contrário, ele é ao mesmo tempo um ser político, sempre alerta aos acontecimentos tristes, alegres, violentos, aos quais reage de todas as maneiras. Não: a pintura não é feita para decorar apartamentos. É um instrumento de guerra para operações de defesa e ataque contra o inimigo”.

Essas foram palavras de Pablo Picasso (1881-1973), que pintou, em 1937, a obra de nome Guernica. Ela refere-se aos horrores da guerra e à brutalidade do bombardeio aéreo realizado por aviões alemães sobre a cidade espanhola de mesmo nome.

A obra cumpre um duplo papel: o de representar um acontecimento histórico e o de ser um acontecimento, pois é uma intervenção da cultura na luta política.

Guernica, em 26 de abril de 1937, tinha sido severamente bombardeada por aviões alemães, postos à disposição do general Francisco Franco, aliado de Hitler. Dos 7 mil habitantes da cidade, 1.654 morreram e 889 ficaram feridos. O massacre teve como objetivos a submissão da região e a demonstração da nova técnica bélica alemã, o bombardeamento de saturação, que seria depois usado em larga escala na Segunda Guerra Mundial. Esse consistia em usar técnicas modernas e científicas para maximizar os danos e o número de vítimas nos bombardeios, facilitando o avanço das unidades de infantaria. Os motivos do bombardeio eram claros: serviriam de exemplo para os espanhóis e para todos aqueles que se opusessem aos alemães e seus aliados.

Picasso assume uma posição ofensiva. Por meio da pintura de Guernica, não pretende apenas mostrar os horrores da guerra, mas obrigar a humanidade a sentir-se corresponsável - se não por participação direta, por submissão – pela carnificina realizada contra os espanhóis.

Pintada em estilo cubista, Guernica impressiona pelas figuras fragmentadas em tons de cinza, branco e preto. O que mais se destaca no quadro é a ausência de cores ou relevo, duas das principais qualidades sensíveis com as quais percebemos a natureza. Não perceber a natureza é cortar as relações que se tem com ela e com a vida. Com isso só resta a morte.

Outra característica da obra é uma crise na forma, que é a representação máxima de uma civilização. A forma como reconhecemos e admiramos o mundo é produto da cultura de nossa civilização; quando esta entra em crise, representa uma crise na própria civilização.

Estas características mostram como o autor entende a sociedade em que vive e suas transformações em seus aspectos mais gerais. Já o conteúdo representa as especificidades do acontecimento, pelos símbolos presentes na obra. Símbolos como o touro, clara referência à Espanha, indiferente diante do massacre ocorrido; o desespero do homem e da mulher, em lados opostos do quadro, sendo que o primeiro vê sua casa destruída pelas chamas e a segunda chora pelo filho morto. 

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