Na revolução francesa, a direita referia-se ao grupo parlamentar que se
sentava ao lado direito do presidente da respectiva assembleia. Era,
tradicionalmente, constituído por elementos pertencentes aos partidos
conservadores. Contrapunha a ele a parte da assembleia que ficava à esquerda do
presidente. Em Ciências Políticas, o conjunto de indivíduos ou grupos políticos
partidários de alguma reforma social ou revolução socialista compõe a esquerda.
Entende-se como ação
política a que tem por finalidade a formação de decisões coletivas que, uma vez
tomadas, passam a vincular toda a coletividade. Política, portanto, é ação
coletiva.
“Esquerda” e “direita”
indicam programas contrapostos com relação a diversos problemas cuja solução
pertence, habitualmente, à ação política. Possuem contrastes não só de ideias,
mas também de interesses econômicos e de prioridades a respeito da direção a
ser seguida pela sociedade. Esses contrastes existem em toda sociedade. [...]
Politicamente, os jogos
de interesses são muitos. Os diversos blocos, partidos e tendências têm entre
si convergências e divergências. São possíveis as mais variadas combinações de
umas com as outras. O maniqueísmo – doutrina que se funda em princípios
opostos, bem e mal, segundo a qual o Universo foi criado e é dominado por dois
princípios antagônicos e irredutíveis: Deus ou o bem absoluto, e o mal absoluto
ou o Diabo – não é a forma adequada de se encarar
essa distinção política: quem não é de direita é de esquerda ou
vice-versa.
Entre a escuridão e a
luz, existe a penumbra. Entre o preto e
o branco, não existe apenas o cinza, mas sim um
arco-íris de colorações políticas [...]
Mas “direita” e
“esquerda”, argumenta Norberto Bobbio, em seu livro “Direita e esquerda: razões e
significados de uma distinção política” (São Paulo, Editora da
UNESP, 1995, 129 páginas) continuam a servir como pontos
de referência indispensáveis. Esse filósofo italiano contemporâneo
levanta quais são os critérios para se dizer
que alguém é de direita ou de esquerda.
Parte da constatação de
que os homens, por um lado, são todos iguais entre si; de outro, cada indivíduo
é diferente dos demais. Os que consideram mais importante, para a boa
convivência humana, aquilo comum que os une, em uma coletividade, estão na margem
esquerda e
podem ser corretamente chamados de igualitários. Os que acham relevante, para a melhor
convivência, a diversidade e/ou a competitividade, estão na margem
direita e podem ser
chamados de meritocratas.
São de esquerda as pessoas que se interessam pela
eliminação das desigualdades sociais. A direita insiste na convicção de que as
desigualdades são naturais e, enquanto tal, não são elimináveis.
Entre
os economistas, não há porque descartar a distinção política entre direita e
esquerda [...]
Nesse posicionamento
ideológico direitista [no discurso econômico], é comum se adotar o chamado
“discurso da competência“, ou seja, sugerir que “não é qualquer um que pode
dizer qualquer coisa a qualquer outro em qualquer ocasião e em qualquer lugar”.
Só os “competentes” ou “eficazes”, nas entrelinhas, aquele que está falando e,
no máximo, seus pares ou discípulos, podem se pronunciar. Os demais são
“incompetentes”…
A direita confia que as desigualdades sociais
possam ser diminuídas à medida que se favoreça a competitividade geral;
minimiza a proteção social e maximiza o esforço individual. A esquerda prioriza a proteção contra a
competição social. Na escolha entre a competitividade e a solidariedade,
enfatiza esta última.
O que define a posição
de direita é a ideia de que a
vida em sociedade reproduz a vida natural, com sua violência, hierarquia e
eficiência. Se os homens são seres biológicos desiguais, devem
submeter-se à lei do darwinismo social.
Segundo essa concepção, a sociedade mercantil faz também a seleção, neste caso
“social”, entre os indivíduos que podem se desenvolver — “os vencedores” — e os
que podem apenas sobreviver — “os perdedores”.
A regra
de ouro da direita
econômica é: quem melhor se adapta ao meio ambiente econômico enriquece,
inclusive dando continuidade a sua dinastia. O homem de direita, acima de tudo, preocupa-se
com a defesa da tradição e da herança.
Já a atitude de esquerda pressupõe que a
condição humana é fundada pela negação da herança natural. A sociedade se
desenvolve, opondo-se às forças cegas da natureza. [...] Quem
acredita na essência humana como essencialmente egoísta e imutável é de direita, mesmo sem saber.
Para ter consciência de
si, assumindo claramente sua posição política na sociedade, a (re)leitura de
Norberto Bobbio, em seu livro “Direita
e esquerda: razões e significados de uma distinção política”, é
sempre oportuna.
¹ Professor
do Departamento de Economia da UNICAMP.
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