Burgueses
e Proletários
Manifesto
Comunista/ 1848 – Karl Marx e Friedrich Engels
Por
burguesia entende-se a classe dos capitalistas modernos,
proprietários dos meios de produção social que empregam o trabalho
assalariado. Por proletariado, a classe dos assalariados modernos
que, não tendo meios próprios de produção, são obrigados a
vender sua força de trabalho para sobreviver.
A
história de todas as sociedades até hoje existentes (isto é, toda
história escrita) é a história das lutas de classes.
Homem
livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de
corporação e aprendiz, em resumo, opressores e oprimidos, em
constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora
franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre ou por uma
transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela
destruição das duas classes em conflito.
Nas mais
remotas épocas da História, verificamos, quase por toda parte,
sociedades estruturadas em vários segmentos, em uma hierarquia
diferenciada das posições dos indivíduos. Na Roma antiga, temos
patrícios, guerreiros, plebeus e escravos; na Idade Média, senhores
feudais, vassalos, mestre de corporações, artesãos e servos; além
disso, em quase todas essas classes, novas subdivisões.
A
sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade
feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez mais do que
estabelecer novas classes, novas condições de opressão, novas
formas de luta em lugar das que existiram no passado.
Entretanto,
a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter
simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada
vez mais em dois campos opostos, em duas grandes classes em confronto
direto: a burguesia e o proletariado.
Dos
servos da Idade Média nasceram os moradores dos primeiros burgos;
desta população municipal saíram os primeiros elementos da
burguesia.
A
descoberta da América, a circum-navegação da África abriram um
novo campo de ação à burguesia emergente. Os mercados das Índias
Orientais e da China, a colonização da América, o comércio
colonial, o incremento dos meios de troca e das mercadorias em geral
imprimiram ao comércio, à indústria e à navegação um impulso
desconhecido até então; e, por conseguinte, desenvolveram
rapidamente o elemento revolucionário da sociedade feudal em
decomposição.
A
organização feudal da indústria, circunscrita a corporações
fechadas, já não satisfazia as necessidades que cresciam com a
abertura de novos mercados. A manufatura a substituiu. O mestre das
corporações é deslocado pelo pequeno industrial; a divisão do
trabalho entre as diversas corporações desaparece diante da divisão
do trabalho no interior das oficinas.
No
entanto, os mercados continuaram crescendo e as necessidades
aumentando. Também a manufatura não dava conta. Então, o vapor e a
maquinaria revolucionaram a produção industrial. No lugar da
manufatura surgiu a grande indústria moderna; no lugar dos pequenos
produtores, os industriais milionários, os chefes de exércitos
industriais inteiros, os burgueses modernos.
A grande
indústria criou o mercado mundial, preparado pela descoberta da
América. O mercado mundial promoveu um desenvolvimento
incomensurável do comércio, da navegação e das comunicações.
Esse desenvolvimento, por sua vez, voltou a impulsionar a expansão
da indústria. Na mesma medida em que indústria, comércio,
navegação e estradas de ferro se expandiam, desenvolvia-se a
burguesia, os capitais se multiplicavam e, com isso, todas as classes
oriundas da Idade Média passavam a segundo plano.
Vemos,
assim, como a burguesia moderna é ela mesma o produto de um longo
processo, moldado por uma série de transformações nas formas de
produção e circulação.
/.../
A
burguesia desempenhou na história um papel altamente revolucionário.
Onde
passou a dominar, destruiu as relações feudais, patriarcais e
ideais. /.../ Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca e
substituiu as muitas liberdades, conquistadas e decretadas, por uma
determinada liberdade, a de comércio. Em uma palavra, no lugar da
exploração encoberta por ilusões religiosas e políticas ela
colocou uma exploração aberta, desavergonhada e brutal.
A
burguesia despiu de sua auréola todas as atividades veneráveis, até
agora consideradas dignas de respeito. Transformou o médico, o
jurista, o sacerdote, o poeta e o homem de ciência em trabalhadores
assalariados.
A
burguesia rasgou o véu comovente e sentimental do relacionamento
familiar e o reduziu a uma relação puramente monetária./.../.